Os trechos abaixo, extraídos de literatura referenciada em seguida,
podem nos mostrar um pouco sobre os partidos arquitetônicos de regiões com
clima tropical úmido (i.e. Salvador), ou seja, sobre as condicionantes que
devem estar presentes para a concepção de um projeto com a garantia do conforto
térmico, onde os fluxos térmicos e condutividades podem ser trabalhados com
dispositivos criativos, práticos e baratos, mas que também, a depender do
cliente, podem ser mais sofisticados.
ANEXO 06 - RECOMENDAÇÕES PROJETUAIS PARA CLIMA
TROPICAL ÚMIDO 1
Adaptado
dos trabalhos de Gonzales et al, (v.2., 1986), Koenigsberger et al (1980),
Lavigne (1994), Arizmendi (1980), Alucci et al (1986).
Configuração
urbana
·
Utilizar
o terreno circundante, as construções próximas ou a vegetação para aumentar a
exposição aos ventos durante a estação quente;
· Evitar
a localização de massas de água a montante dos ventos dominantes, que aumenta a
alta umidade relativa do ar (sempre acima de 70%).
Paisagismo
Concepção
de paisagismo orientada para proporcionar vantagens em termos de energia e
estética, utilizando a vegetação como proteção/redutor de incidência dos raios
solares na edificação.
· Localizar
áreas verdes de modo a não prejudicar a ventilação natural durante a estação
quente (evitar áreas verdes a montante dos ventos dominantes);
· Prever
sombreamento nos locais de permanência prolongada, áreas de pedestres e pontos
de ônibus;
· Utilizar
o terreno circundante, a vegetação e estruturas para criação de sombras;
· Utilizar
capa vegetal e reduzir ao mínimo as superfícies pavimentadas para resfriar o
entorno dos edifícios, especialmente na direção dos ventos dominantes, e
amenizar a reflexão dos raios solares que incidem sobre a superfície do solo
circundante;
· Sombrear
as superfícies pavimentadas;
· Reduzir
ou eliminar a reflexividade das superfícies exteriores próximas às aberturas
expostas ao sol;
· Ofuscamento - evitar o uso de grandes superfícies
polidas (metais, vidros e granitos), brancas ou brilhantes (pinturas esmalte
alto brilho) ou expostas à radiação direta do sol; dar preferência a cores“terrosas”/suaves.
Paredes
exteriores
Em
edifícios de até dois pavimentos, têm menor influência no conforto interno do
que a cobertura,embora qualquer redução na quantidade de calor que passa para o
interior dos edifícios melhora as condições de habitabilidade. Devem ser de
materiais leves, de baixa capacidade térmica, mais para garantir a privacidade
e proteção contra as intempéries do que como barreiras térmicas. Seu projeto
deve procurar:
· Aumentar
a condutância total das vedações externas e diminuir a condutância das vedações
orientadas para o norte;
· Paredes
protegidas da incidência direta do sol, especialmente as orientadas para leste
e oeste;
· Brises/proteções
horizontais em toda superfície norte, inclusive nas paredes e brises verticais
móveis nas paredes verticais este/oeste, se possível de dupla camada com
ventilação intermediária;
· Se
possível proteger as paredes orientadas para leste e oeste com vegetação
(árvores, trepadeiras, etc.);
· Quando
não for possível o uso de vegetação, utilizar paredes duplas ou dotadas de dispositivos
de proteção opacos à radiação e transparentes ao vento, que possibilitem a
circulação do ar no espaço intermediário com a parede em contato com o ambiente
interno;
·
Superfície
externa das paredes que recebem radiação solar deve ser refletora — cores
claras, evitando o uso de grandes superfícies lisas de cor branca ou
envidraçadas, verdadeiros radiadores de luz que provocam ofuscamento e
desconforto no seu entorno imediato;
· Paredes
devem ter coeficiente de transmissão térmica ar-ar máximo de 2,8 w/m2 oC, fator
solar3 máximo de 4% e tempo de transmissão térmica máximo de 3 horas;
· Vedações
externas homogêneas, devem ser executadas com espessuras superiores a 0,25m,
com materiais de baixa difusividade (capacidade de um material transmitir uma
variação de temperatura, independentemente da potência térmica em jogo) e
grande efusividade (capacidade de um material absorver ou restituir uma
potência térmica);
· Vedações
externas de dupla camada (camada externa isolante e interna de grande
efusividade) são mais eficientes para reduzir a variação interna de temperatura
provocada por oscilações da temperatura exterior, sem necessidade de utilizar
vedações internas espessas e de grande efusividade;
Janelas
e proteções solares
Seu
projeto deve assegurar ventilação natural permanente na direção do corpo dos
usuários dos ambientes, para restabelecer a sensação de conforto, acelerando o
resfriamento pelo processo evaporativo. As aberturas são mais permeáveis à
passagem de calor do que as paredes5e devem ser bem projetadas para evitar que
os ganhos térmicos obtidos pelas paredes sejam anulados e devem:
·
Ser
orientadas preferencialmente na direção dos ventos dominantes;
·
Ser
transparentes à ventilação, direcionando as correntes de ar na direção do corpo
dos habitantes;
· Ser
opacas à radiação solar (direta e difusa) — as demais funções (iluminação,
vista para o exterior, privacidade, etc.) têm menor relevância do ponto de
vista do conforto térmico;
·
As
aberturas para leste ou oeste devem ser estreitas e altas;
· Nas
fachadas norte e sul, recomenda-se aberturas que ocupem de 40 a 80% da área da
parede - a superfície envidraçada não
deve ocupar mais do que 20% da área da parede, e deve estar totalmente protegida
da radiação direta do sol mediante a correta orientação dos edifícios, da
utilização dos elementos de sombra existentes no entorno dos edifícios (outros
edifícios, árvores, etc.) ou através de dispositivos externos (venezianas,
brises, anteparos, etc.) que limitem a penetração dos raios solares.